Do Cancioneiro da Biblioteca Nacional
Breve apresentação
O primeiro texto que encontramos no Cancioneiro da Biblioteca Nacional é um pequeno tratado em prosa sobre a arte galego-portuguesa, de autoria desconhecida. Habitualmente designado como "Arte de Trovar", resume brevemente a poética trovadoresca, definindo géneros e regras a que deveria obedecer a arte dos trovadores e jograis.
Transcrito pela mão do próprio Angelo Colocci, o humanista italiano que mandou copiar o códice, e ainda pela mão de um dos seus copistas ("mão a"), encontra-se truncado no seu início e apresenta igualmente muitos passos lacunares ou de difícil leitura ao longo dos seus vários títulos e capítulos (numa organização que também não é muito clara). Aparentemente, e atendendo ao espaço em branco que o precede, a referida lacuna inicial afetaria já o original copiado, cujo texto deveria igualmente apresentar alguns passos em mau estado de conservação. Desconhecemos, de resto, a sua proveniência. Podendo ter feito parte integrante do cancioneiro medieval a que Colocci teve acesso, também não é impossível, como sugere Anna Ferrari [1979:93] que fosse um fragmento autónomo chegado às mãos do humanista italiano, que teria decidido inseri-lo como um fascículo introdutório no seu exemplar de trabalho (como é visivelmente o cancioneiro B).
Sendo difícil avaliar a totalidade da matéria constante na lacuna inicial da Arte de Trovar, é quase certo que nela se encontrariam as definições de dois dos géneros principais da arte galego-portuguesa, a cantiga de amor e a cantiga de amigo. Tal como chegou até nós, a Arte de Trovar inicia-se com a definição das cantigas dialogadas, onde estes dois géneros são referidos, o que nos permite ainda ter uma ideia genérica das definições perdidas.