Quantos aqui d'Espanha som

General Note

O início desta cantiga, pelas referências muito concretas e mesmo biográficas que comporta - o trovador está fora de Espanha, integrado num séquito ou grupo, provavelmente militar - , constitui uma abertura singular para uma cantiga de amor. Singularidade que se esbate um pouco a partir da segunda estrofe, assumindo a cantiga a partir daí um registo que, sem deixar de ser original, está mais próximo da normativa do género.
Diz-nos, pois, o trovador que, na situação em que se encontram, longe de Espanha, todos os seus companheiros perderam já o sono, ansiando pelo regresso. De si próprio, no entanto, não pode dizer o mesmo - mas apenas porque já em Espanha não conseguia dormir. De resto, se eles agora não dormem, assim que regressarem às suas terras dormirão, pois nada mais os atormenta. Mas ele não terá a mesma sorte: o desejo pela sua formosa senhora continuará a tirar-lhe o sono, levando-o à loucura. Acrescenta, no entanto: porque ela é o bem mais precioso pelo qual anseia, se Deus permitisse que ela lhe fosse favorável, não trocaria a sua posição pela de um rei ou de um imperador.
Se não é fácil localizar exatamente o lugar onde o trovador se encontraria (até porque os dados biográficos a seu respeito são escassos), é possível que ele estivesse algures além-Pirinéus, já que o termo Espanha designava geralmente na época a Península Ibérica no seu todo (a Hispânia romana).