General Note
O trovador afirma que o seu mal, maior do que qualquer outro, tem origem na sua senhora e sua natural, que ama e não lhe quer valer.Na verdade, é a partir do termo natural que Martim Soares constrói esta sua cantiga. Trata-se de um termo tipicamente medieval, que se aplicava aos herdeiros de um mesmo convento (que dele recebiam uma renda); implicando uma relação de proximidade social e geográfica, poder-se-ia talvez traduzir aqui por “patrícia” (como faz Carolina Michaëlis1). Note-se, no entanto, que o trovador joga, ao longo da composição, com as implicações jurídicas do termo, nomeadamente o dever de amor para com um "natural" - como acontece logo na 2ª estrofe, no apelo que faz ao seu "direito" e na referência ao "crime" que ela faria se não lhe valesse. Também na última estrofe, a solução que imagina para o seu caso - ganhar coragem e expor-lhe claramente a injustiça de que se sente vítima - faz apelo a este mesmo contexto jurídico.
Não sabemos, na verdade, se o trovador usa o termo em sentido literal, aludindo a uma sua parente em concreto, ou apenas em sentido metafórico. Sendo a primeira hipótese bastante possível, praticamente impossível será apurarmos a identidade desta senhora.
Bibliographic references
1
Vasconcelos, Carolina Michaëlis de
(1990),
Cancioneiro da Ajuda, vol. I,
Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904)