General Note
O trovador reconhece como o poder de Deus é grande: fez morrer a sua senhora, mas logo lhe deu a conhecer uma outra, que o fez esquecer de tudo o resto. Se a composição se inicia, pois, com a referência a essa amada já falecida (cuja morte lamenta numa cantiga anterior), a partir do v. 4, e numa mudança algo brusca, é a nova senhora que ocupa a totalidade da cena, assumindo a cantiga, a partir daí e até ao seu final, o registo tópico da cantiga de amor.A sua beleza e do seu falar faz com que o trovador garanta que ela é a melhor de quantas conheceu (levando talvez o leitor/ ouvinte a perguntar: então e a morta?). Qualidades que o farão sofrer para o resto da sua vida, até porque nada lhe ousará confessar, nem tem amigos que possam contar a essa dona o quanto sofre. De resto, se algum lhe contasse, o trovador está em crer que ela permaneceria indiferente.
São os três primeiros versos que alteram, pois, o quadro habitual do género, e neles, como sugere Arias Freixedo1, "o público coñecedor mesmo podería apreciar unha intención irónica", uma intenção potenciada, estamos em crer, pela mudança brusca para o registo ortodoxo do género - mas agora no louvor a uma outra amada, tão inigualável como a primeira. Este jogo entre o registo normativo e irónico é desenvolvido por Pero Garcia em duas outras cantigas deste ciclo, essas já claramente satíricas - ou blasfemas, se assim o entendermos, já que nelas o alvo da ira do trovador é Deus, o causador da morte da referida senhora.
Resources Words "Rima"
(v. 6 de cada estrofe)<br><i>vi</i> (I, II), <i>amigo nom hei </i>(III, IV)
Bibliographic references
1
Árias Freixedo, Xosé
(2003),
Antoloxia da lírica galego-portuguesa,
Vigo, Edicións Xerais