General Note
Cantiga que se desenvolve em duas partes relativamente distintas. Na primeira (as duas estrofes iniciais), o trovador fala das suas difíceis relações com o Amor (personificado): se o Amor, embora o tentasse, nunca conseguiu fazer com que perdesse a razão, tenta agora matá-lo, o que poderá conseguir, visto a sua senhora assim o desejar. E se o Amor considera uma loucura pedir o que nunca pode ter, o trovador argumenta que não tem escolha - se tivesse nunca se disporia a morrer, até porque uma tal morte não é brincadeira.Na segunda parte da cantiga (3ª estrofe e finda), este tom geral dá lugar a dados bem mais concretos e até mesmo biograficamente exatos. Deixou a sua senhora em Faria (vila muito próxima da sua terra natal, o lugar de Guilhade, e igualmente referida numa outra cantiga), e encontra-se agora longe de Portugal, em Segóvia, morrendo por não a ver, pelo menos um pouco, como dantes. E, dizendo-se desesperado, inicia um jogo com a sua identidade, revelando enfim quem ela é - é filha de Maria. Embora o verso onde essa revelação é feita (v. 21) não seja hoje inteiramente claro para nós (como se explica melhor na nota respetiva), tratar-se-á, agora sim, de uma brincadeira, aqui em torno do tradicional segredo sobre a identidade da amada.