General Note
Mais uma cantiga que tem como motivo o comportamento dos cavaleiros nas campanhas da Andaluzia, esta bem longa, uma vez que seriam numerosos os faltosos e o rei parece fazer questão em aludir a cada um em particular. O tema é semelhante ao que encontramos noutras cantigas deste ciclo: quem não combateu, não pode vir à festa - aqui, muito concretamente as festas de Maio, as maias. Note-se, no entanto, que o mês de Maio era também o mês do alardo, ou seja, do recenseamento das tropas para os combates da primavera e do verão, o que explica o jogo de palavras que constrói a cantiga.Tudo indica que esta espécie de longa ladainha satírica terá sido composta no contexto da revolta nobiliárquica contra Afonso X, ocorrida entre os anos 1272 e 1274, ou seja, na altura em que um numeroso grupo de ricos-homens e cavaleiros, chefiados por D. Nuno de Lara e D. Lopo Díaz de Haro, entrou em conflito aberto com o rei, acabando mesmo por se aliar ao rei muçulmano de Granada. O momento coincide com o desencadear de novos ataques muçulmanos à fronteira andaluza, vindos do Norte de África, e com a recusa dos mesmos ricos-homens de se juntarem à hoste real que se preparava para os combater - e isto muito embora o rei tivesse já satisfeito parte das suas reivindicações relativas a pagamentos em falta. As denúncias feitas na composição parecem coincidir perfeitamente com estes dados.
A cantiga aparece completa em B, mas repartida em dois lugares distintos: as primeiras seis estrofes em B 496, as restantes muito antes, riscadas e sem numeração, antecedendo a cantiga B 145 (de Paio Soares de Taveirós). Para além desta anomalia na sua transmissão (que se deverá a alterações, feitas por Colocci, na ordem do folios onde se copiaravam as cantigas de amor de Paio Soares1), muitos passos da cantiga são de interpretação extremamente difícil, quer pelas dificuldades de leitura dos manuscritos, quer pelas cerradas alusões, muitas das quais nos escapam.
Bibliographic references
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