Fui eu, madre, lavar meus cabelos

General Note

O cenário natural (a fonte), juntamente com a aparente simplicidade com que João Soares Coelho desenha a singela figura feminina que nela ouvimos (em versos que seguem o tradicional esquema paralelístico, embora de forma mais livre), fazem desta cantiga uma das mais delicadas e conhecidas cantigas de amigo dos Cancioneiros.
Dirigindo-se à sua mãe, a donzela conta que foi à fonte lavar seus cabelos (em tranças) e que gostou do que viu, achando-se bela (pelo que temos desde logo que imaginar que se olhou no espelho das águas). Logo depois chegou o seu amigo (aliás, o senhor dos seus cabelos), que lhe disse coisas que ela também gostou de ouvir.
Para além do simbolismo sensual do ato de lavar cabelos na fonte, note-se que, como acontece geralmente com este tipo de cantigas de cariz popularizante, a força poética da composição reside, não tanto no que se diz, mas no que as palavras revelam sem explicitamente dizerem.