General Note
Esta tenção entre Afonso Eanes do Cotom e Pero da Ponte coloca-nos em pleno centro do universo trovadoresco, com os seus graus e hierarquias, e respetivos direitos e deveres. Embora a diferença de estatuto social entre Cotom e Pero da Ponte não fosse talvez grande, Cotom ataca aqui o seu colega por este, tendo-se chamado a si mesmo escudeiro numa cantiga, lhe exigir pagamento, como um simples jogral (quando seria suposto realizar a sua arte desinteressadamente). Como defesa, Pero da Ponte ataca, ironizando sobre a alegada vocação militar de Cotom: nem todos poderiam prosperar com o ofício das armas, cada um deveria aproveitar os respetivos talentos.A seguir a esta tenção, em V (em B só 1ª frase) lê-se: A quantos sabem trobar/ quero eu que vejam o enfadamento das trobas feitas e pois verom que ningũa cosa nom podem prestar. Embora em V a frase apareça disposta em forma de estrofe (e em B Colocci tenha numerado como tal a primeira frase e o espaço em branco que a segue, com o nº 970), tratar-se-á certamente de um comentário posterior, talvez da mesma época das trovas apócrifas acrescentadas, aqui e ali, aos primitivos manuscritos galego-portugueses, aproveitando alguns espaços em branco. Tal como acontece com algumas destas trovas, desconhecemos quem teria sido o autor deste curioso comentário depreciativo.