General Note
Neste vivo diálogo entre mãe e filha, a moça começa por perguntar por que razão a mãe a mantém presa e a impede de ver o seu amigo. Na resposta, a mãe começa por alegar que, desde que ele a conheceu, nada mais fez do que tentar separá-las. Mas acrescenta um outro motivo: na verdade, ele traz a moça enganada com os seus cantares que, acrescenta, não valem nada e qualquer um os poderia desfazer (mostrar como são maus). A moça vem então em auxílio do brio artístico do seu amigo, respondendo que não é isso que dizem, em todos os lugares onde ele passa, os que conhecem a arte de trovar. E renova o apelo para que a sua mãe a liberte daquelas quatro paredes e a deixe ver o seu amigo, prometendo-lhe que passará a ser obediente.Mas a mãe não quer ouvir falar nisso, até porque, sabendo muito bem o que ele quer, tem ainda outra objeção de monta: a disparidade social entre os dois - o que faz notar, dizendo que, pela linhagem a que ela pertence, ele não deveria ser amigo, mas servo dela. A moça pensa que com ele isso não seria possível, mas novamente pede à mãe para a libertar, pois nada tem a recear. Mas a mãe responde que, conhecendo-os aos dois, mais vale prevenir do que remediar.
Note-se a curiosa defesa que o trovador faz, por interposta voz feminina, do seu talento na arte de trovar, e que é também uma resposta a algumas jocosas críticas que lhe são feitas por colegas de ofício (como é o caso desta cantiga de Lourenço).