Um cavaleiro havia

General Note

A longa rubrica que acompanha esta cantiga define as personagens e circunstâncias que lhe deram origem: um Mestre de uma Ordem de Cavalaria, com sua barregã tendeira e seus filhos, todos vivendo à custa dos dinheiros da Ordem, com os quais, aliás, especulavam. O negócio não lhes teria, no entanto, corrido da melhor forma, sendo finalmente obrigados a fechar a venda. Se esta história constitui a primeira leitura da cantiga, entenda-se, no entanto, o equívoco erótico que ela representa.
Embora, neste caso, o trovador não identifique nem o Mestre nem a Ordem, é muito possível que, como geralmente acontece nas sátiras que aludem à vida particular de personagens públicas, a cantiga tivesse uma dimensão política muito concreta. Investigações recentes, de Graça Videira Lopes1 e Cláudio Neto2, sugerem mesmo que o mestre em questão poderia eventualmente ser um dos irmãos Escacho, Pero ou Garcia Peres, que se sucederam à frente da Ordem de Santiago, o primeiro de 1319 a 1329, o segundo de 1329 a 1346. Ambos muito relacionados com a burguesia mercantil de Lisboa, eram também muito próximos de Afonso IV, numa fidelidade que vinha já dos tempos do conflito do então infante com seu pai, D. Dinis.
Bibliographic references
1 Lopes, Graça Videira (2012), "Algumas notas sobre a base de dados Cantigas Medievais Galego-Portuguesas", Medievalista [Em linha]. Nº12, (Julho - Dezembro 2012), Lisboa, IEM/FCSH-UNL Access the web page
2 Neto, Cláudio (2012), As Ordens Militares na cultura escrita da Nobreza - 1240-1350. Representações nas cantigas de escárnio e de maldizer, FCSH-UNL, Dissertação de Mestrado Access the web page