Eu convidei um prelado a jantar, se bem me venha

General Note

Nova cantiga de seguir, como a rubrica que a acompanha nos explica. O visado parece ser D. Miguel Vivas, bispo de Viseu, várias vezes satirizado por esta última geração de trovadores. Para se entender cabalmente a cantiga há que ter em conta, como detalhadamente explicou Luciana Stegagno Picchio1, que os alhos verdes eram muitas vezes utilizados como indutores da bebida. João de Gaia utiliza, pois, o mesmo engenhoso processo de seguir que utiliza na sua cantiga sobre o alfaiate-cavaleiro: altera ligeiramente o refrão da cantiga (no caso, uma bailada) que segue (de olhos verdes passa a alhos verdes), de modo a fazê-lo significar outra coisa: aqui, concretamente, o gosto do prelado pela bebida, detetável pelo seu nariz roxo, repetidamente descrito em todos os matizes desta cor. Todos estes dados nos são confirmados pela rubrica.
Bibliographic references
1 Stegagno Picchio, Luciana (1979), "Os alhos verdes (Uma cantiga de escarnho de Johan de Gaya)", in A lição do texto. Filologia e Literatura, Lisboa, Edições 70