- Pedr'Amigo, quero de vós saber

General Note

Vasco Peres Pardal e Pedro Amigo de Sevilha debatem, nesta tenção, o tema das artes mágicas da conhecida soldadeira Maria Balteira. Onde e com quem as teria ela aprendido? A tenção transforma-se assim numa jocosa biografia de Maria Balteira, que teria começado cedo a sua "carreira" (já no reinado de D. Fernando, pai de Afonso X, o que é uma forma indireta de lhe chamar velha), num percurso que incluiria mesmo alguns nomes sonantes do próprio campo muçulmano.
O curioso desta tenção é que ela nos parece demonstrar que, de facto, Maria Balteira teria um estatuto particular na corte de afonsina e mesmo um certo poder. Na verdade, a alusão aos Escalholas, ou Banû Ashqîlûla, grande família árabe da Andaluzia (cujos membros foram aliados de Afonso X contra o rei de Granada, Ibn al-Ahmar), levou Menéndez Pidal e mesmo o historiador Ballesteros Beretta a pensarem que o rei teria eventualmente utilizado a soldadeira como instrumento político, enviando-a numa embaixada secreta que por volta de 1264 teria ido a Granada selar a aliança1. Se bem que não se conheçam fontes documentais que nos permitam confirmar ou desmentir a participação de Maria Balteira nestas movimentações políticas, o certo é que a tenção, que data certamente desses anos (talvez de 1266), faz uma alusão clara às relações entre a soldadeira e o campo muçulmano, e é possível que não seja apenas, como sugere Rodrigues Lapa, para brincar com a suposta atração de Maria Balteira pelo Islão.
Uma outra hipótese de leitura (que não exclui, de resto, as anteriores) é a de considerar que Maria Balteira é aqui apenas um jocoso pretexto para os dois intervenientes tecerem comentários mais ou menos velados ao comportamento político dos Escalholas na complexa situação então vivida.
Bibliographic references
1 Lapa, Manuel Rodrigues (1970), Cantigas d'Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição, Vigo, Editorial Galaxia