Nota geral
De todas as pastorelas que nos chegaram (que não são muitas), esta é aquela que segue mais de perto o modelo provençal, no qual o cavaleiro/ trovador requisita de amor uma pastora em termos de explícitos favores sexuais. Mas a adaptação não deixa de ser também claramente ibérica, desde logo pela referência ao espaço e ao momento em que se passa a cena: durante uma romaria que Pedro Amigo fez a Santiago de Compostela.Como habitualmente, a composição inicia-se por um preâmbulo narrativo/ descritivo, desenvolvendo-se a partir daí em diálogo.
Encontrando, pois, no Caminho de Santiago, a mais bela das pastoras, o trovador pede-lhe o seu amor (pergunta-lhe se ela o quer por amante), dispondo-se a oferecer-lhe em troca uma série de presentes: toucas e cintos de bom tecido, pano para um corpete e ainda qualquer outra coisa que ela quiser.
Na sua primeira resposta (que ocupa duas estrofes, III e IV) ela, começando por fazer-lhe notar a sua abordagem algo abrupta (já que nunca o tinha visto), diz-lhe que não poderia aceitar prendas que serão decerto para outra, imaginando mesmo a reação de pesar dessa outra, perante a qual ela ficaria sem resposta.
A isto o trovador responde que ela argumenta bem (na verdade, como ele dá a entender e nós compreendemos, a fala da moça destina-se principalmente a avaliar se ele tem outra); mas que não tem mais ninguém, só ela, que ele deseja e a quem pede para permitir que ele "seja seu homem daquela vez".
Entendendo bem a ambiguidade da expressão (naquele momento/ só por uma vez) a moça, arguta, diz-lhe então que aceita, mas estando certa de que, depois da romaria acabada, ele a levará com ele dali, ficando-lhe ela muito agradecida (ou seja, aludindo a uma relação não esporádica mas duradoura).