Nota geral
Uma das mais justamente célebres cantigas de amigo dos Cancioneiros, esta composição de Fernando Esquio é também um exemplo acabado do modo como a arte galego-portuguesa é capaz, por vezes, de criar um quadro de grande complexidade poética, recorrendo a formas e elementos aparentemente muito simples.Uma moça desafia a sua irmã para irem ambas dormir e folgar (e a sequência destes verbos não é fortuita) para as margens do lago, onde sabe que o seu amigo anda, com o seu arco, à caça de aves. Nas duas estrofes finais, ela acrescenta que ele não tencionar matar as que cantam.
Mas se o que esta voz feminina diz é relativamente simples e quase elementar, é no que ela sugere (mas não diz) que teremos de procurar as pistas que conduzem a este universo de subtil sensualidade, harmónico com o quadro natural em que a cena se desenrola. O leitor pode, assim, tentar perceber, por exemplo, o valor simbólico das aves no poema, o contraste entre o feminino e o masculino (em particular, o papel da caça e do arco), ou ainda a mistura de ousadia e receio com que o trovador desenha, de forma notável, a figura intemporal de uma jovem apaixonada,