Nota geral
Mais uma cantiga cuja interpretação requer o cabal entendimento do equívoco em que assenta. A rubrica que a acompanha indica as circunstâncias que lhe deram origem: um doutor que incumbe um ex-frade de lhe tratar do casamento. E sublinha muito claramente a palavra-chave, apóstata, donde nasce o jogo dos equívocos. De facto, o que se insinua é que o interesse do procurador pelo negócio do casamento do doutor seria, prioritariamente, o seu interesse pela "fazenda" do dito, na qual se incluiria, muito concretamente, a noiva. O equívoco assenta, pois, nas várias leituras possíveis do refrão: como aposta ta fazenda (do verbo "apostar", pôr em boa forma: fazenda aposta = fazenda bem tratada), com'apóstat', a fazenda (apóstata) e talvez mesmo como há posta ta fazenda. Dado não podermos saber a forma como a cantiga era cantada (as pausas, nomeadamente), optamos por fazer variar o refrão, deixando ao leitor a escolha das várias leituras orais possíveis.