Nota geral
Mais uma original cantiga de Osoiro Anes, se bem que, neste caso, o texto ofereça alguns problemas de edição, nomeadamente nas estrofes finais, bastante deturpadas nos manuscritos.Dirigindo-se à sua senhora, a melhor de entre todas, o trovador queixa-se do seu desamor, que o faz viver dias difíceis, pedindo-lhe, pois, que o proteja de si própria. Até porque, garante, se nunca desejou o amor de nenhuma outra, receia que ela pense o contrário, fazendo-o sofrer injustamente as consequências. E, nesse caso, a sua vida muito pouco durará, ideia que lhe dá algum conforto.
A partir de 3ª estrofe, a cantiga introduz um novo motivo, seguindo, a partir de aí, um desenvolvimento bastante original. O trovador diz, pois, que se sente incomodado com as perguntas dos muitos que pretendem saber a que se deve o seu ar pensativo, obrigando-o, muito contrariado, a dar justificações, e levando-o a isolar-se, irritado consigo próprio e com o mundo, e com a sensibilidade à flor da pele.
No momento em que se vai deitar, os seus cuidados redobram, embora o facto de não ser obrigado a falar com ninguém (porque se deita longe de todos) constitua um relativo descanso (note-se que a dormida em aposentos comuns era a regra na época).
Voltando a dirigir-se diretamente à sua senhora (5ª estrofe), ele jura-lhe então que, se sobreviver à sua perda, nunca mais amaria ninguém. Mas que prazer terá ela em matá-lo?
A última estrofe, sendo a mais original, é também aquela que mais problemas de leitura e de edição levanta. Na nossa interpretação, o trovador conclui que, trocá-la por outra seria um pecado que Deus nunca lhe perdoaria. Nem ele próprio suportaria infligir-lhe tal afronta: pelo contrário, sendo-lhe então impossível adormecer, nessa altura adormeceria de vez (morreria).