Nota geral
Para melhor compreendermos a cantiga é necessário entender a rubrica que a acompanha (e que só vem completa em V). Diz-nos ela que Martim Soares a fez a uma sua irmã que lhe tinha ido fazer queixa de que um seu amante clérigo lhe batia. E por causa desta queixa, o clérigo não quis voltar para ela; a rapariga foi então buscar o clérigo, levando-o para a sua própria casa. Se este é o contexto específico, o que Martim Soares critica aqui parece ser sobretudo a falta de vergonha (e de caráter) da donzela, cujos motivos, aliás, seriam mais interesseiros que amorosos. Não deixa, no entanto, de ser curiosa esta denúncia, cheia de alusões eróticas, de um familiar próximo (mesmo entendendo que a donzela poderia eventualmente ser uma irmã de leite, ou uma prima direita, uma co-irmã).Note-se ainda que a cantiga se desenvolve a partir de uma referência paródica a um episódio do ciclo dos cavaleiros da Távola Redonda (sendo D. Caralhote a deturpação paródica de D. Lancelote).