Sei eu um ric'home, se Deus mi pardom

Nota geral

Esta cantiga faz parte do conjunto de composições que tanto Afonso X como vários dos trovadores do seu círculo dirigiram contra o comportamento, considerado dúbio e cobarde, de muitos infanções e ricos-homens nas guerras da reconquista e defesa da Andaluzia. Neste caso, e mais concretamente, o que o trovador critica é o aparato e a ostentação com que um deles se apresentava em campanha, e que não teria correspondência com o efetivo cumprimento das suas obrigações militares (como fica explícito no refrão). Note-se a curiosa referência final ao jogralzinho (jograrete) com que o rico-homem se faria acompanhar.
Como uma boa parte das cantigas deste ciclo, a composição deverá situar-se no contexto de um dos conflitos marcantes do reinado de Afonso X, a rebelião dos seus principais ricos-homens, ocorrida entre os anos 1272 e 1274. Entrando em rutura com o monarca, a quem acusavam, entre muitas outras coisas, de falta de cumprimento nos pagamentos que lhes eram devidos, os nobres rebeldes não só ficaram surdos ao chamamento para se juntarem à hoste real, como acabaram por estabelecer várias alianças contra ele, nomeadamente com o rei de Granada, reino onde, por algum tempo, se expatriaram. Ridicularizando, pois, a falsa ostentação de um deles, Pero Gomes Barroso defende fielmente a posição do rei Sábio neste conflito.