Sedia-xi Dom Belpelho em ũa sa maison

Nota geral

Uma das mais longas e mais célebres cantigas do cancioneiro satírico: em forma de paródia às canções de gesta francesas, D. Afonso Lopes de Baião ridiculariza a família dos Briteiros, cujo deão, Rui Gomes de Briteiros, passou de modesto infanção a homem chave da corte de D. Afonso III, que o elevou à categoria de rico-homem e o cobriu de honrarias, como prémio pela fidelidade demonstrada aquando da crise que conduziu à deposição de D. Sancho II. Recorde-se que a carreira de Rui Gomes (também trovador) começou com um atribulado casamento com uma donzela da família dos Sousa, precedido de um alegado rapto, episódio também presente no cancioneiro satírico, através de uma outra conhecida cantiga, essa de Martim Soares.
Segundo nos diz a rubrica que acompanha esta composição de D. Afonso Lopes de Baião, será ao seu filho D. Mendo de Briteiros que o trovador aqui se dirige. No entanto, Leontina Ventura e Resende de Oliveira1, apontando pertinentemente para a inadequação a um jovem da alcunha que a cantiga dá ao satirizado (D. Belpelho - a raposa, também chamado "raposa velha no v.51), colocam a hipótese de se tratar de um erro desta mesma rubrica, na qual, tardiamente, se teria confundido o nome do filho com o do pai, personagem cujo perfil parece, de facto, adequar-se bem melhor ao retrato que o trovador nos traça do satirizado. A ser assim, a composição deverá datar do período compreendido entre 1248 e 1250, ou seja, entre a subida ao trono de Afonso III e a data provável da morte de Rui Gomes.
Embora desconheçamos a natureza exata do conflito que terá servido de pretexto a esta gesta paródica (talvez um qualquer conflito em torno do Mosteiro de Refóios, de que os Briteiros eram defensores, como se depreende da cantiga), facilmente se percebe que aquilo que D. Afonso Lopes de Baião, um representante da velha nobreza, pretende caricaturar aqui é uma nobreza recente, cujo aspeto, gestos e atitudes, tanto dos chefes da linhagem como dos seus vassalos, trariam indubitavelmente as marcas da sua origem rural.
Note-se ainda que, formalmente, esta paródia às canções de gesta francesas conserva as suas leixas monorrimáticas, a exclamação épica (Eoi!) e mesmo numerosos galicismos.
Referências
1 Ventura, Leontina e Oliveira, António Resende de (2003), "Os Briteiros (séculos XII-XIV) 4. Produção Trovadoresca", in Os Reinos Ibéricos na Idade Média. Livro de Homenagem ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero Moreno, coord. Luís Adão da Fonseca et al, vol. II, Porto, Livraria Civilização