À lealdade da Bezerra, que pela Beira muit'anda,

Nota geral

Uma das mais conhecidas cantigas do Cancioneiro satírico, violento manifesto contra os que permitiram a deposição de D. Sancho II, de quem Vuitorom foi um ardente defensor: por um lado os alcaides dos castelos referidos ao longo da composição (particularmente da Beira), que, como indica a rubrica, os entregaram ao Conde de Bolonha, o futuro Afonso III, quebrando assim, para o trovador, o juramento de lealdade para com o seu legítimo senhor e rei; por outro lado, e muito claramente, os altos dignatários da Igreja que imediatamente legitimavam a traição, quando não a incitavam (e que desempenharam, de facto, um importante papel no conflito). É um verdadeiro achado a utilização que é feita das citações bíblicas e outras frases em latim, seguidas da "tradução" em bom português. Note-se que a cantiga abre, antes da estrofe final, uma exceção para o leal alcaide de Celorico da Beira, que surge como um verdadeiro herói neste mar de indignidades.
A cantiga deve ter sido composta no final da guerra civil que opôs os partidários dos dois irmãos, ou seja, por volta de 1247, ou um pouco antes, provavelmente no círculo do Infante Afonso de Castela (o futuro Afonso X), que veio efetivamente em socorro do infeliz rei (entrando com a suas tropas pela Beira). Nos cancioneiros, duas outras cantigas abordam o mesmo tema, e terão sido compostas no mesmo círculo (até porque nenhuma cantiga nos chegou do lado oposto).
A composição começou por ser editada (Braga, Nunes) em versos curtos de sete sílabas, que é a disposição dos manuscritos. Carolina Michaelis1 dá-lhe a forma atual de versos longos de quinze sílabas, mas mantém um espaço ao meio do verso (correspondente à cesura), editando a composição em duas colunas. Será talvez uma outra boa hipótese de edição.
Referências
1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (), "Em volta de Sancho II", in Lusitânia, II (1924-1925),