Nota geral
As repetidas queixas de Gil Peres Conde quanto à sua má estrela em Castela dizem agora respeito a um castelhano violento e brigão, amador de querelas inúteis, que o trovador, aparentemente receoso, procura evitar, fechando-se na sua "pousada". Mas o interesse desta curiosa cantiga reside, em grande parte, num facto que é raro nestes trovadores e jograis que parecem, antes de mais, ibéricos: na afirmação clara da sua identidade portuguesa, face à perseguição de um castelhano. Assim, e talvez pela primeira vez, parecem aqui delinear-se dois tipos culturais claramente distintos e com os traços que vão perdurar longamente na cultura peninsular: o português comedido e prudente, o espanhol, bravo e fanfarrão.Repare-se ainda na curiosa estrutura rítmica da composição, com versos agudos de 8 e graves de 6 sílabas. Os últimos versos de cada estrofe são a chamada palavra perduda. Encontramos, aliás, um esquema semelhante numa cantiga de Airas Engeitado, pelo que é possível que uma das composições seguisse a outra.
Recursos Palavras Perduda
v. 8 de cada estrofe