Nota geral
Cantiga que Fernão Rodrigues Redondo dirige ao cunhado de D. Dinis, D. Pedro de Aragão, irmão da rainha D. Isabel. Por aquilo que nos diz a rubrica que a acompanha, a cantiga alude a uma cena em que D. Pedro teria ferido gratuitamente (endoado) um seu mordomo com um espeto de leitão que tinha à mão.A alusão a esse episódio é feita em forma de equívoco com a cerimónia da investidura dos vassalos, que incluiria um toque de espada (neste caso substituída pelo espeto). Mas o equívoco inclui também a ideia (não expressa na rubrica) de que D. Pedro se teria enganado nas hierarquias, "fazendo seu vassalo" um cavaleiro de posição social mais elevada, o que não parece coordenar-se muito bem com o facto de a mesma rubrica nos dizer que o agredido teria sido um seu mordomo. Sendo assim, supõe Rodrigues Lapa que a cantiga aludiria a um qualquer pequeno acidente protagonizado por D. Pedro e de que teria sido vítima o próprio rei D. Dinis. De qualquer forma, a ambiguidade da rubrica, aliada ao nosso desconhecimento do contexto (que será certamente jocoso), impede-nos de interpretar cabalmente a composição, que terá sido composta por volta de 1297, ano em que D. Pedro se estabeleceu em Portugal.
É ainda difícil decidir se a frase final da rubrica, e foi seguida doutra cantiga, significa que foi completada com uma segunda composição (que não chegou até nós), ou se especifica o facto de ser esta uma cantiga de seguir (feita a partir de uma outra). Neste último caso, que parece mais provável, é possível que a cantiga seguida fosse uma composição de Rodrigo Anes de Vasconcelos (algo obscura, diga-se), cujo primeiro verso do refrão se assemelha bastante ao verso correspondente desta cantiga.