Dom Estêvam, oí por vós dizer

Nota geral

Cantiga bastante sibilina, dirigida a um D. Estêvão, a propósito da sua teimosia em perseguir uma dona muito guardada, com quem ele gastaria rios de dinheiro. Equivocamente, as alusões homossexuais também fazem parte deste programa satírico.
Embora acusações semelhantes sejam igualmente dirigidas por outros trovadores a um D. Estêvão que parece ser português, é possível, como sugere Vicenç Beltran1, que Pedro Amigo se dirija aqui ao rico-homem castelhano D. Esteban Fernandéz de Castro, um dos protagonistas da revolta dos nobres castelhanos contra Afonso X, ocorrida entre os anos 1272 e 1274, e que foi um dos conflitos marcantes do seu reinado. Na verdade, e no que toca a D. Esteban de Castro, adiantado-mor da Galiza desde 1265 (cargo de que foi demitido aquando da rebelião), um dos pontos em litígio era, da parte de D. Esteban, a alegação de que o rei mantinha presa D. Aldonça Rodríguez, sua mulher, alegando, por sua vez, Afonso X estar ela apenas sob sua proteção, visto não ser ainda sua mulher, mas apenas sua desposada (noiva ou prometida). Filha de D. Afonso de Molina e neta de Afonso IX de Leão, D. Aldonça era uma das jovens herdeiras mais cobiçadas do reino, e, por isto mesmo, certamente uma importante peça no xadrez político do conflito.
A composição de Pedro Amigo parece adaptar-se perfeitamente a este contexto, sendo por certo mais um caso em que, por detrás de uma aparente e jocosa sátira de costumes, se visam objetivos políticos muito concretos, no caso, o ataque a um dos protagonistas da rebelião contra o monarca, de cuja posição Pedro Amigo se faz eco aqui. Acrescente-se que D. Aldonça acabará efetivamente por casar com D. Esteban (que será igualmente reposto no seu cargo, em 1276).
Referências
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