As graves coitas, a quen'as Deus dar

Nota geral

O trovador começa por dizer que bom seria que Deus, dando a alguém grande sofrimento de amor, lhe pudesse dar ao mesmo tempo um confidente com quem esse apaixonado pudesse desabafar (sem, no entanto, lhe dar a entender detalhes concretos) e que se condoesse dele - mas duvida que Deus possa fazer tal coisa. Continuando este raciocínio na 2ª estrofe, acrescenta que o que ele tem a certeza é que, a quem isto desse, Deus daria uma vida mais longa e um sofrimento mais suportável, e que seria esta a única forma de tal pessoa não perder totalmente a razão e morrer.
Na 3ª estrofe, o trovador passa ao registo pessoal: deste tipo de sofrimento poderia ele falar, já que o padece todos os dias, mas crê que já não vai a tempo e de nada lhe valeria. Avisa, no entanto, aqueles que ainda podem, a não se empenharem muito com nenhuma senhora, por melhor ou mais bonita que seja, até porque, quanto melhor ela for, pior passarão.
De forma original, a composição termina com cinco findas, nas quais o registo é novamente muito pessoal e emotivo. No seu conjunto, ele lamenta a triste sorte que teve ao amar uma senhora a quem não ousa sequer confessar o seu amor.
Acrescente-se que, das composições que nos chegaram, só uma outra apresenta este número tão elevado de findas, uma cantiga (também de amor) de Nuno Anes Cerzeo.