Nota geral
Nesta notável pastorela, D. Dinis põe em cena uma pastora atormentada de amores enquanto espera pelo seu amigo, num cenário primaveril e idílico. Que o espera é o que se depreende logo da primeira estrofe, quando ela nos diz que doravante nenhuma mulher deve confiar no namorado já que o seu a enganou, Mas a originalidade da pastorela reside, em grande medida, no aparecimento inesperado de um papagaio, que surge, na sua mão e a cantar, logo no início da segunda estrofe. Entre novos lamentos (e note-se que ela diz que o amigo a enganou em vão, ou seja, que ela até estaria muito disponível para aceder aos seus pedidos), a donzela "cai entre uma flores", onde permanece uma parte do dia, sem dar acordo de si (como a cantiga tão bem descreve). Segue-se um original diálogo final entre a pastora e o papagaio, no qual a ave, não só a acalma, como anuncia finalmente, e como por magia, a chegada do amigo.Não sendo este o lugar para uma análise mais detalhada desta composição, acrescente-se apenas que é possível que D. Dinis parta aqui de uma novela provençal bem conhecida, as Novas del papagai, de Arnaut de Carcassé (cuja história é, no entanto, um pouco diferente, já que se trata de uma dama encerrada num jardim por um marido ciumento, e a quem um papagaio eloquente convence a trair).