Nom quer'a Deus por mia morte rogar

Nota geral

Indiferente face a tudo, o trovador afirma que não pedirá a Deus nem a morte, nem pela sua vida, pois, enquanto ela durar, não haverá bem ou mal que Ele lhe possa fazer que o afetem. Porque o pior mal, do qual pensa não ser possível recuperar, já Ele lhe fez. E depois desse desgosto terrível, o seu coração é incapaz de sentir qualquer prazer.
O desalento e mesmo a descrença numa justiça divina, estão, pois, no centro desta interessante composição, cujas características a tornam dificilmente integrável num dos três géneros canónicos da lírica galego-portuguesa. Se aceitarmos que o seu registo a aproxima mais do sirventês moral, deveremos ter em conta que não é o mundo ou as relações sociais que estão aqui em causa, mas a relação individual do homem com Deus. Sendo o desgosto recebido o motivo próximo para o pessimismo do trovador, a relação com a cantiga anterior, onde se chora a morte da mulher amada, parece evidente, razão pela qual também não estamos completamente afastados do universo da cantiga de amor.
Seja como for, as quatro composições não satíricas do Conde D. Pedro parecem estar em sequência cronológica (na cantiga seguinte, aliás, o trovador faz, na 1ª finda, uma referência explícita a esta "queixa" a Deus), e constituir, no seu conjunto, um original e inovador ciclo com nítidas características autobiográficas.