Treides todas, ai amigas, comigo

Nota geral

Cantiga em que uma voz feminina (que não será a da donzela) incita um grupo de amigas a irem visitar um homem apaixonado e ferido, e que não quer morrer para não desgostar alguém que ama e por quem é amado. Se as chagas referidas parecem, neste caso, bem reais e físicas (resultantes de algum recontro militar?), esse homem, como é dito na 3ª estrofe, não é outro senão o próprio João Garcia de Guilhade, cavaleiro leal e muito de louvar.
Esta é a primeira de uma notável série de cantigas de amigo auto-referênciais, ou seja, nas quais João Garcia de Guilhade se refere a si próprio por interposta voz feminina, a da donzela que põe a cantar. E se, neste caso, o tom é de (auto-)elogio, em quase todos as restantes a voz da donzela é assumidamente crítica e irónica. No seu conjunto, este grupo de cantigas, pela inteligência poética que atestam e pela inegável modernidade que resulta deste "teatro de vozes", são um dos pontos mais altos da Lírica trovadoresca galego-portuguesa.