Muitas vezes em meu cuidar

Nota geral

O confronto entre a imaginação e a realidade é tema desta cantiga. A questão é resumida pelo trovador logo na 1ª estrofe: muitas vezes, em pensamento, imagina receber os favores da sua senhora; mas o gosto que então tem logo se transforma em tristeza, e nada lhe fica desse bem, nem sabe o que fazer. A única saída, como afirma na 2ª estrofe, é continuar a imaginar, pois o Amor força-o a amar uma senhora que o detesta por isso mesmo; e como ela não sabe amar, não acredita que o Amor tem tal poder. Ora, como prossegue na 3ª estrofe, o Amor tem efetivamente esse poder, e, não acreditando a dama em tal coisa, nunca poderá obter os seus favores senão em imaginação. Na última estrofe, ele explica melhor o que fará: enquanto se conseguir isolar, não falando com ninguém, pode imaginar à sua vontade e não perder esse bem. E assim se propõe continuar a pensar nela durante toda a vida.
Chamamos novamente a atenção para os divertidos comentários marginais (M) que um leitor do século XV escreveu nas margens do Cancioneiro da Ajuda.
Note-se ainda que, na cantiga seguinte, o trovador retoma e explica melhor aquilo em que cuida.
Recursos Palavras Rima
(v. 1 de cada estrofe)<br><i>cuidar</i> (I, II), <i>poder</i> (III, IV)