Eu velida nom dormia

Translate to English
Song for a Sleepless Night
  • A fair girl, wide awake,
  • it's my turn
  • and my friend on his way
  • today it's my turn.
  • Awake the whole night
  • it's my turn
  • till at last he arrived
  • today it's my turn.
  • My friend on his way
  • it's my turn
  • with sweet nothings to say
  • today it's my turn.
  • When at last he arrived
  • it's my turn
  • how sweet were his rhymes
  • today it's my turn.
  • How long I've been wishing,
  • it's my turn
  • to have you here with me
  • today it's my turn.
  • How long I've desired
  • it's my turn
  • to have you by my side,
  • today it's my turn.
  • My night, by God, this is my night
  • it's my turn
  • I know who won't say “This is my night”
  • today it's my turn.
  • I know who won't say “This is my night”
  • it's my turn
  • A devil's who won't say “This is my night”
  • today it's my turn.

[English version by Richard Zenith]

Nota geral

Durante muito tempo esta notável cantiga de amigo de Pedro Anes Solaz não encontrou uma explicação cabal, dada a estranheza do seu duplo refrão, que era entendido como puramente onomatopaico (ou seja, como um mero conjunto de sons exclamativos). A sugestão de Brian Dutton (19641) e Firmino Crespo (19672), de que se trataria, na verdade, de um refrão em língua árabe, significando "e a noite roda" ou "a noite é longa" (o que se enquadraria bastante bem na voz da donzela que não consegue dormir), veio trazer mais alguma luz à composição. Já mais recentemente, Rip Choen e Federico Corriente3 interpretaram de forma diferente os versos do refrão, propondo a tradução "é a minha vez" (v. 2), "e hoje é a minha vez" (v. 4) e ainda, quanto a leli (v. 25), a exclamação "A minha noite!".
Por explicar fica esta utilização da língua árabe no refrão, caso único em toda a poesia galego-portuguesa. Este facto, juntamente com as alterações algo bruscas no paralelismo (nas estrofes 5 e 6, e nas estrofes finais), alterações que parecem introduzir inesperados desvios de sentido na voz da donzela, continuam a dificultar uma interpretação cabal da cantiga. Lamento? Canto de júbilo? Original sátira indireta? (nesta última interpretação, o trovador poderia aludir aqui aos amores proibidos entre uma donzela e um muçulmano, talvez um músico, dentre os que sabemos terem estado ao serviço dos soberanos peninsulares). Seja como for, sublinhe-se o facto de estarmos perante uma cantiga de amigo que, sem nada perder do seu notável lirismo, é, na sua originalidade, de difícil classificação.
Referências
1 Dutton, Brian (1964), "Lelia doura, edoy lelia doura, na arabic refrain in a thirteenth-century galician poem?", in Bulletin of Hispanic Studies, XLI,
2 Crespo, Firmino (1967), "Lelia Doura ou o estranho refrão de uma cantiga trovadoresca", in Colóquio, 42, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian Aceder à página Web
3 Cohen, Rip e Corriente, Federico (2002), "Lelia Doura revisited", in La Corónica: a Journal of Medieval Hispanic Languages, Literatures and Cultures, vol. 31, nº 1, Aceder à página Web