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What I've Seen
- In my travels, I have gone
- where loyalty and reason,
- courage and wisdom, amount
- to nothing, and
- where a man gains
- by lavish praise alone –
- here, the talk must be sweet,
- even when a lord's sown salt.
- Whoever, like me, values
- honesty, and knows right
- from wrong – he'll turn away,
- but won't be spurned like others
- (I won't say who or how).
- Elsewhere I've known men
- who'd not lie, or lose honor.
- In this place I dreamed
- a single theme: I saw
- a hoopoe catch an egret,
- and I saw the hoopoe's crest –
- What does the egret mean?
- and how'd the hoopoe best it?
[English version by Adam Mahler]
Nota geral
Outro curioso sirventês moral sobre o estado do mundo, que tem a particularidade de terminar com um sonho profético com duas aves, em forma de enigma para o ouvinte ou o leitor descodificar, e cuja interpretação tem dado origem a alguma discussão. Muito embora o texto manuscrito da estrofe onde esse sonho é descrito (a terceira) levante alguns problemas de leitura (que discutimos nas notas), a imagem que Martim Moxa nos propõe para decifração será a de uma pequena ave (a bubela, ou poupa) atacando e vencendo uma maior (a cerzeta, que será a garça), Esta leitura não só é mais lógica enquanto enigma, mas vai ao encontro das conotações medievais das duas aves, as da poupa negativas e as da garça, uma ave aquática, positivas. De facto, o conhecido Livro das aves2 (de que há, pelo menos, três cópias medievais portuguesas), diz-nos sobre a poupa: "Ave muito porca, coroada com uma crista erguida, anda sempre sobre sepulcros e esterco humano", acrescentando que "esta ave representa os malvados pecadores que constantemente se deliciam com a imundície do pecado". Já sobre a garça diz-nos: "Esta ave pode indicar as almas dos eleitos que, receando as tentações deste mundo, para não se envolverem por instigação do Demónio em tempestades de perseguições, elevam os seus desígnios acima de todas as coisas temporais e as suas mentes até à serenidade da pátria celeste, onde sempre se avista o rosto de Deus". Não é difícil, pois, pressupor que é a partir deste valores símbólicos que Martim Moxa constrói o seu enigma.Acrescente-se que é ainda provável, como pensa Stegagno Picchio1, que o sirventês, por detrás desta simbologia e da sua linguagem moral abstrata, aluda a situações político-sociais bem mais concretas (a "crista" da poupa podendo, por exemplo, ser uma coroa, e a ave representando a figura de um monarca).
Recursos Palavras Rima
imperf. (v. 6 em I, 5 em II e III):<br><i>dizer </i>
Referências
1
Stegagno Picchio, Luciana
(1968),
Martin Moya. Le Poesie,
Roma
2
Gonçalves, Maria Isabel Rebelo (Ed.)
(1999),
Livro das Aves,
Lisboa, Edições Colibri