Tal como a composição que a segue nos manuscritos, em B esta composição é atribuída claramente a Martim Soares. A transcrição que A faz destas duas composições, parece, no entanto, contrariar esta atribuição de B, já que, embora transcrevendo-as também imediatamente a seguir às cantigas de amor deste trovador, o folio em que ambas surgem é encimado por uma iluminura, o que neste cancioneiro significa invariavelmente mudança de autor. Uma vez que neste mesmo cancioneiro não existem rubricas atributivas, quem seria, pois, esse outro autor? Não sendo fácil responder a esta questão, o problema complica-se ainda pelo facto de esta primeira composição, claramente heterodoxa no que toca às normas da cantiga de amor, fazer referência a factos e personagens efetivamente aludidos pelo mesmo Martim Soares na composição de escárnio que B transcreve imediatamente antes desta, factos esses que envolvem o rapto de D. Elvira de Sousa pelo infanção e trovador Rui Gomes de Briteiros. A hipótese de ser o próprio raptor, Rui Gomes, também trovador, o autor desta composição (e da seguinte), hipótese colocada por Carolina Michaelis1 e adotada por alguns editores posteriores, parece, por sua vez, ser pouco condizente com o seu tom claramente jocoso, tom esse que parece bem mais de acordo com a clara atribuição a um outro, no caso, a Martim Soares, feita por B. Note-se ainda que, neste manuscrito, a indicação "Rui Gomes de Briteiros", que Colocci acrescentou na margem inferior esquerda do folio, dirá respeito à rubrica relativa à composição anterior, transcrita nessa mesma coluna, e onde esse nome (o do raptor) está deficientemente transcrito, e não à autoria da composição seguinte, a que nos ocupa.
Assim, e atendendo a este complicado puzzle, optámos por manter a dúvida quanto à sua autoria, cingindo-nos à indicação exata que nos é fornecida pelos dois cancioneiros.
Anónimo 1
or
Martim Soares
Assim, e atendendo a este complicado puzzle, optámos por manter a dúvida quanto à sua autoria, cingindo-nos à indicação exata que nos é fornecida pelos dois cancioneiros.
General Note
Pequena cantiga que parece incidir sobre o mesmo tema e personagens da conhecida composição, da autoria de Martim Soares, sobre as "netas do Conde", que a precede no cancioneiro da Biblioteca Nacional, ou seja, o rapto de D. Elvira de Sousa ou da Maia pelo infanção e trovador Rui Gomes de Briteiros. Apesar de subsistirem algumas dúvidas quanto à sua autoria (já que em A ela é anónima), a atribuição desta cantiga ao mesmo Martim Soares, feita por B, não deixa de ser plausível, pelo menos atendendo ao tema (ver Nota de autoria, onde a questão é mais detalhadamente discutida). Seja como for, parece tratar-se, mais uma vez, de uma cantiga posta na voz do próprio Rui Gomes, se bem que agora num tom bem mais ligeiro e pessoal. Acrescente-se que este tom parece, de resto, contrariar os critérios antológicos do Cancioneiro da Ajuda, que é claramente uma recolha limitada a um género, a cantiga de amor. Não sendo caso único neste cancioneiro, esta heterodoxa cantiga será, no entanto, uma das mais evidentes exceções.Acrescente-se ainda que, apesar da ordem em que surgem no apógrafo italiano, é provável que esta cantiga fosse cronologicamente anterior à composição sobre as "netas do Conde" que a precede, já que parece aludir a um momento anterior ao rapto de D. Elvira.