Pero da Pont'há feito gram pecado

General Note

Em plena disputa trovadoresca, Afonso X censura ironicamente Pero da Ponte por se aproveitar dos cantares de Afonso Eanes do Cotom, enriquecendo assim à custa do trabalho alheio. Pero da Ponte, diz o rei, teria mesmo morto o seu amigo à traição, apenas para lhe roubar as cantigas.
Tratar-se-á, ao que tudo indica, de uma acusação jocosa, própria do ambiente trovadoresco da corte afonsina, partindo certamente de um contexto concreto que nos escapa. Nesta medida, e tendo em conta a continuada repetição do verbo lazerar (sofrer) ao longo desta composição, poderemos eventualmente pôr como hipótese o rei estar aqui a aludir jocosamente à única cantiga de amor de Cotom (pelo menos, a única que nos chegou), A gram dereito lazerei, pondo ironicamente em causa a sua autoria (ou seja, entendendo este primeiro verso à letra - que tanto lhe teria custado a fazer). E isto ao mesmo tempo que brinca com a morte de amor, tão apregoada pelos trovadores, e também com a questão do pagamento dessa atividade trovadoresca, assunto exatamente em cima da mesa numa tenção entre Cotom e Pero da Ponte. Seja como for, e de forma mais imediata, o contexto da disputa entre os dois, a que o rei alude, relacionar-se-ia certamente também com o excesso de bebida, como parece depreender-se da última estrofe da composição.