João Lobeira - All cantigas

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B 244

Descrição

  • Amor
  • Refrão
Senhor genta,
mi tormenta
voss'amor em guisa tal,
que tormenta
5
que eu senta
outra nom m'é bem nem mal
- mais la vossa m'é mortal!
Leonoreta,
fin roseta,
10
bela sobre toda fror,
fin roseta,
nom me meta
em tal coi[ta] voss'amor!

Das que vejo
15
nom desejo
outra senhor se vós nom,
e desejo
tam sobejo
mataria um leom
20
- senhor do meu coraçom!
Leonoreta,
fin roseta,
bela sobre toda fror,
fin roseta,
25
nom me meta
em tal coi[ta] voss'amor!

Mia ventura
em loucura
me meteu de vos amar:
30
é loucura
que me dura,
que me nom posso en quitar
- ai fremosura sem par!
Leonoreta,
35
fin roseta,
bela sobre toda fror,
fin roseta,
nom me meta
em tal coi[ta] voss'amor!
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B 245

Descrição

  • Género incerto
  • Mestria
Nom pode Deus, pero pod'em poder,
poder El tanto, pero poder há:
já [d']ũa dona nom me tolherá
bem, pero pode quanto quer poder;
5
[e] sei eu d'El ũa rem, a la fé:
que, pero El pod’, enquanto Deus é,
seu bem que perça nom pod'El poder.

E pero é sobre todos maior
senhor em poder de quantos eu sei,
10
nom pod'El poder, segund'apres'hei,
pero é Deus sobre todos maior,
que me faça perder prol nem gram bem
daquesta dona, que m'em poder tem,
pero pod'El em poder mui maior.

15
E pero Deus é o que pod'e val,
e pode sempre nas cousa[s] que som,
e pode poder em tod'a sazom,
nom pod'El tanto, pero pod'e val,
que me faça perder, esto sei eu,
20
da mia senhor bem, pois me nunca deu
poder em tanto, pero tanto val.
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Cancioneiros

B 246

Descrição

  • Amor
  • Refrão
Muitos que mi oem loar mia senhor
e falar no seu bem e no seu prez
dizem eles que algum bem me fez;
e dig'eu: o bem do mundo melhor
5
me fez e faz, assi Deus me perdom,
desejar, mais em outra guisa nom.

Fal'eu da sa bondad'e do seu sem,
e dizem-m'eles, quand'esto dig'eu,
que bem mi fez, porque sõo tam seu;
10
e dig'eu: o bem sobre todo bem
me fez e faz, assi Deus me perdom,
desejar, mais em outra guisa nom.
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B 247

Descrição

  • Amor
  • Mestria
Se soubess'ora mia senhor
que muit'a mi praz d'eu morrer
ante ca sa ira temer,
(que houv' e que sempre temi
5
mais ca morte, des que a vi)
pesar-lh'-ia mais doutra rem
d'eu morrer, pois a mi praz en.

Esto entend'eu do seu amor,
ca, des que a vi, vi-lh'haver
10
sempre pesar do meu prazer
e sempre sanha contra mi;
e por esto entend'eu assi:
que da morte, que m'ora vem,
pesar-lh'-á, porque é meu bem.

15
Desto sõo já sabedor;
e ar prazer-mi-á de saber:
des que eu mort'[assi] prender,
que[m] lhi sofrerá des ali
tantas coitas com'eu sofri?
20
Eu creo que lhi falrá quem,
pero m'ela tev'em desdém,

des que a vi; e se pavor
eu nom houvesse de viver
(o que Deus nom leixe seer),
25
diria quanto mal prendi
dela, por bem que a servi,
e de como errou o sem
contra mi; mais nom mi convém.
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B 248

Descrição

  • Amor
  • Refrão
Amigos, eu nom posso bem haver,
nem mal, se mi nom vem de mia senhor;
e pois m'ela faz mal e desamor,
bem vos posso com verdade dizer:
5
que a mim aveo em guisa tal
que vi todo meu bem por gram meu mal.

Ca vi ela, de que m'assi avém,
que já nom posso, assi Deus mi perdom!,
d'al haver bem, nem mal, se dela nom;
10
e pois end'hei mal, posso dizer bem
que a mim aveo em guisa tal
que vi todo meu bem por gram meu mal.

Pois bem nem mal nom m'é senom o seu,
e que mi o bem falec'e o mal hei,
15
e pois meu tempo tod'assi passei,
com gram verdade posso dizer eu
que a mim aveo em guisa tal
que vi todo meu bem por gram meu mal.
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B 249

Descrição

  • Amor
  • Refrão, dialogada
- Venh'eu a vós, mia senhor, por saber
do que bem serve e nom falec'em rem
a sa senhor e lh'a senhor faz bem,
qual deles deve mais [a] gradecer.
5
- Amigo, mais dev'o bem a valer;
ca, se o bem dad'é por o servir,
o servidor deve mais a gracir.

- Quem bem serve, senhor, sofre gram mal
e grande afã e mil coitas sem par,
10
onde devia bom grado a levar,
se mesura da sa senhor nom fal.
- Amigo, mais é o bem e mais val;
ca, se o bem dad'é por o servir,
o servidor deve mais a gracir.
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B 1389, V 998

Descrição

  • Escárnio e Maldizer
  • Mestria
Um cavaleiro há 'qui tal entendença
qual vos eu agora quero contar:
faz, u dev'a fazer prazer, pesar,
e sa mesura toda é entença;
5
e o que lhi preguntam, respond'al;
e o seu bem fazer é fazer mal,
e todo seu saber é sem sabença.

E nom depart'em rem, de que se vença,
pero lh'outro [a]guisado falar;
10
e verveja, u se dev'a calar,
e nunca diz verdad', u mais nom mença;
e, u lhi pedem cousimento, fal;
pero é mans', u dev'a fazer al
e, u deve sofrer, é sem sofrença.

15
Des i er fala sempr'em conhocença
que sabe bem sem-conhocer mostrar;
e dorme, quando se dev'espertar,
e meos sab', u mete mais femença;
e, se com guisa diz, logo s'en sal;
20
e, u lh'avém algũa cousa tal
que lh'é mester cienç', é sem ciença.

E nom lhi fazem mal, de que se sença,
ante leix'assi o preito passar,
e os que lhi deviam a peitar,
25
peita-lhis el, por fazer aveença,
e diz que nẽum prez nada nom val;
mais Deus, que o fez tam descomunal,
lhi queira dar, por saúde, doença.
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