O que seja no pavio

Nota geral

Cantiga de apurado virtuosismo linguístico, baseada no artifício rimático chamado "macho e fêmea" (variações sobre o masculino e feminino do mesmo termo), o que a torna, aliás, um pouco obscura em alguns momentos. O facto de a terceira estrofe estar em muito mau estado nos manuscritos não facilita, de resto, as coisas. Seja como for, o contexto no qual foi composta a composição é-nos explicado pela rubrica que a acompanha: depois de uma discussão com um "comendador" (muito certamente um membro de um ordem militar), que dele se queixou ao rei, o trovador terá sido privado dos rendimentos da localidade de Pavia, que eram seus.
Embora seja difícil apurarmos concretamente de que rei se tratará, a cantiga parece inserir-se no contexto do repovamento das zonas de conquista relativamente recente ou de fronteira (Pavia situa-se no Alentejo), contexto no qual os monarcas ibéricos (Afonso X ou D. Dinis, por exemplo), fundando povoações em zonas escolhidas, ou entregando-as a Ordens militares por razões de defesa (como aconteceu exatamente no Alentejo), entraram muitas vezes em conflito aberto com a nobreza, que reivindicava a posse dessas terras. Dado Pavia ter sido uma das localidades fundadas por D. Dinis1, é possível que seja ele o rei referido (como parece confirmar, de resto, a cantiga de amor do trovador, que abre com uma referência explícita à sua pouca sorte em Portugal)
Referências
1 Calado, Adelino de Almeida (Ed.) (1998), Crónica de Portugal de 1419, Aveiro, Universidade de Aveiro