Em V, esta composição e a seguinte são atribuídas a João Fernandes de Ardeleiro (como as duas anteriores dos manuscritos), enquanto B as atribui já a Mem Rodrigues de Briteiros. Lapa1 segue a indicação de V, enquanto Resende de Oliveira (pp. 363-364)2 é favorável à indicação de B (que também é a do Índice de Colocci). Somos igualmente favoráveis a esta atribuição, embora sem certezas.
Mem Rodrigues de Briteiros
ou
João Fernandes de Ardeleiro
Nota geral
Cantiga cujo sentido não é totalmente claro, visando um tal Pero Colhos (ou Colos, ou mesmo Coelho, se aceitarmos a correção de Lapa1), escudeiro expulso da sua terra, por "britar os caminhos" (v.3), expressão que, em sentido restrito, significará violar a livre circulação nos caminhos e, possivelmente, assaltar. A cantiga, no entanto, não se centra especialmente neste facto, mas alude sobretudo, em forma de equívoco, ao desgosto do pai, que fica "lançado” do seu único filho (afastado/ferido de lança). Na verdade, não é impossível que este termo (e os outros equivalentes que a cantiga insistentemente repete), para além do seu sentido metafórico (uma dor lancinante), possa também ser lido em sentido literal, ou seja, que o trovador aluda a um qualquer confronto violento entre pai e filho - e talvez tenham sido esses, quiçá, alguns dos "caminhos" violados pelo escudeiro. Infelizmente a rubrica explicativa que acompanhava a cantiga chegou-nos muito truncada (e apenas em B), de modo que só poderemos fazer suposições.Assim, e partindo da correção do apelido proposta por Lapa, uma das hipóteses que tem sido avançada é a de Pero Coelho ser Pero Anes Coelho, filho do trovador João Soares Coelho, que teve efetivamente problemas com a justiça, por atropelos vários, problemas que o terão levado a refugiar-se temporariamente na Galiza. Leontina Ventura e Resende de Oliveira (20032), partindo deste pressuposto, datam a composição de 1278, ano em que temos registo desses acontecimentos (e que é, de resto, o ano anterior à data provável da morte de João Soares Coelho). Embora a classificação da personagem como escudeiro, feita pela rubrica, possa conferir algum grau de incerteza a esta hipótese, o certo é que ela se adequa perfeitamente à cantiga de Mem Rodrigues.
Referências
1
Lapa, Manuel Rodrigues
(1970),
Cantigas d'Escarnho e de Maldizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, 2ª Edição,
Vigo, Editorial Galaxia
2
Ventura, Leontina e Oliveira, António Resende de
(2003),
"Os Briteiros (séculos XII-XIV) 4. Produção Trovadoresca", in Os Reinos Ibéricos na Idade Média. Livro de Homenagem ao Professor Doutor Humberto Carlos Baquero Moreno, coord. Luís Adão da Fonseca et al, vol. II,
Porto, Livraria Civilização