D'ũa cousa sõo maravilhado

Nota geral

Escárnio sobre a morte de um tal Pedro Bom, muito semelhante a um outro da autoria de Pero d'Ambroa. Independentemente da questão de as duas cantigas poderem ser complementares, ou de um dos autores ter filhado a razom ao outro (as alusões ao roubo de ideias são frequentes em cantigas e tenções), o facto é que ambas as composições assentam num jogo com o verbo peer, no duplo sentido de "peidar" e "esticar o pernil" (não sendo muito clara a forma como se chega a este último sentido, é possível que tenha origem no termo "pieira", o último suspiro). De qualquer forma, esta espécie de pranto de escárnio de Pero Garcia Burgalês centra-se, particularmente, na sorte de um filho ilegítimo do defunto, deserdado pela morte súbita do pai (o qual, como parece depreender-se, não teria tido grande pressa em legitimá-lo).
Como acontece em muitos outros casos de sátira pessoalizada, não é impossível que esta composição se inserisse num contexto político concreto. De qualquer forma, não tendo sido ainda possível localizar este Pero Bom, pouco mais se poderá adiantar.