Par Deus, Lourenço, mui desaguisadas

Nota geral

Esta cantiga integra-se na chamada "questão da ama", polémica que animou o círculo trovadoresco (muito provavelmente de Afonso X), e que foi provocada pela cantiga de amor que D. João Soares Coelho dirige a uma ama de leite, destinatária pouco habitual neste género de composições. Na sequência deste elogio da "ama", e para além das zombarias que lhe foram diretamente dirigidas, João Soares compôs também uma tenção com Lourenço, onde o acusava de não ser o verdadeiro autor de uma outra anterior tenção (não sabemos exatamente qual), mas sim o seu amo, João Garcia de Guilhade. Guilhade responde-lhe, pois, aqui, assumindo-se realmente como autor dessas tenções - o que é também uma forma de desautorizar e satirizar Lourenço. Esta cantiga tem, assim, um alvo duplo: no início, Lourenço, pela confirmação da jocosa acusação de João Soares Coelho; em seguida este último, pelos seus estranhos gostos em matéria de amor cortês. Note-se o curioso elogio final às suas próprias amas de leite.