Ai eu coitada, como vivo em gram cuidado

Cantiga de amigo de autoria muito discutida, já que vem precedida, no único manuscrito que a transmitiu (B), de duas indicações atributivas contraditórias. Assim, a anteceder imediatamente a composição, a primeira de um grupo de onze do mesmo autor, lê-se a rubrica atributiva: El Rey don affonso de Leon (as dez cantigas seguintes parecendo ser efetivamente de Afonso X). Mas, já antes, no final do caderno imediatamente anterior do cancioneiro, na margem inferior direita de um folio em branco (100v), se lê: rolo outro rolo das cantigas que fez o mui nobre rei D. Sancho de Portugal e diz ai eu coitada como vive (seguindo-se dois folios cortados na origem e logo o folio onde vem transcrita a composição).
Deste modo, entre a opinião de D. Carolina Michaelis, que atribuiu a cantiga a D. Sancho I (CA pp. 593-595)1, e a de Silvio Pelligrini (pp. 78-93)2, que a atribuiu, sem dúvidas, a Afonso X, as posições têm variado. Muito embora a questão continue em aberto, uma parte substancial dos investigadores atuais, entre os quais Resende de Oliveira3, é favorável à integração desta cantiga no grupo de composições encabeçadas pela segunda rubrica, atribuindo-a, pois, ao Rei Sábio (podendo a anterior anotação relativa a D. Sancho eventualmente explicar-se, não como uma rubrica atributiva, mas como uma dedicatória de Afonso X ao rei português D. Sancho II, ou mesmo como referência a um "rolo" de cantigas do rei Sábio mandado fazer pelo monarca português). Note-se que, a ser efetivamente Afonso X o autor da composição, esta será a única cantiga de amigo da sua autoria.
Bibliographic references
1 Vasconcelos, Carolina Michaëlis de (1990), Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, Imprensa nacional - Casa da Moeda (reimpressão da edição de Halle, 1904)
2 Pellegrini, Silvio (1959), Studi su trove e trovatore della prima lírica ispano-portoghese (1ª ed., Turim, 1937), Bari, Adriatica Editrici
3 Oliveira, António Resende de (1994), Depois do espectáculo trovadoresco. A estrutura dos cancioneiros peninsulares e as recolhas dos séculos XIII e XIV, Lisboa, Edições Colibri
Afonso X ou Sancho I
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Song for a Beloved in Guarda
  • Ay! what agony, always longing
  • for my beloved who's gone.
  • How much longer
  • will he stay in Guarda?
  • Ay! what torment, always aching
  • for my beloved who's away.
  • How much longer
  • will he stay in Guarda?

[English version by Richard Zenith]

Nota geral

Lamento da donzela pela demora do seu amigo, que está longe, na cidade da Guarda.