Ora me venh'eu, senhor, espedir

Nota geral

Cantiga de despedida, composta num belo tom emotivo, que parece, em certos passos, aproximar-se do registo pessoal e escapar um pouco à retórica normativa do género.
A cantiga coloca-nos no exato momento da partida, e as palavras são efetivamente de quem, justificando-se, se despede - terminando, aliás, com a saudação de despedida usual na época (com graça de vós, com vossa licença).
Se o motivo que o trovador alega para a sua partida é tópico (a indiferença da senhora face ao seu longo e fiel serviço), e se tópica é também a antevisão do futuro que o espera, sem qualquer gosto ou alegria, menos tópica é a referência explícita ao desejo físico feita no início da 3ª estrofe (toda ela, aliás, composta em forma de perguntas retóricas). Também original é a progressiva despedida final, que começa com a referência ao "muito que tem de andar", e termina com a afirmação da sua dignidade: do serviço que prestou à sua dama irá sem vergonha a qualquer lugar. E, repetindo no último verso a fórmula usual de despedida, como dissemos, o trovador "sai de cena" - ou seja, encerra a sua cantiga com um belo e eficaz efeito teatral.