Sedia-m'eu na ermida de Sam Simion

Translate to English
Song for an Unarriving Lover
  • Sitting at St. Simon's chapel, alone,
  • soon I was surrounded by the rising ocean,
  • waiting for my lover, still waiting.
  • Before the altar of the chapel, waiting,
  • soon I was surrounded by the ocean's waves,
  • waiting for my lover, still waiting.
  • Soon I was surrounded by the rising ocean,
  • without a boatman and unused to rowing,
  • waiting for my lover, still waiting.
  • Soon I was surrounded by the ocean's waves,
  • without a boatman to row me away,
  • waiting for my lover, still waiting.
  • Without a boatman and unused to rowing,
  • I'll die, a fair girl, in the high-waving ocean,
  • waiting for my lover, still waiting.
  • Alone, without a boatman to row me away,
  • I'll die, a fair girl, in the ocean's waves,
  • waiting for my lover, still waiting.

[English version by Richard Zenith]

Nota geral

Sendo a única composição de Mendinho que nos chegou, esta é seguramente uma das mais célebres cantigas de amigo de toda a lírica galego-portuguesa. Construída com base na estrutura tradicional do paralelismo com leixa-pren, o seu resumo também parece simples: na ermida de S. Simion, a moça esperava o seu amigo, que tardava a chegar; subindo entretanto a maré, ela vê-se cercada pelas ondas e teme morrer, pois não tem barqueiro para a socorrer, nem saber remar.
A força poética desta cantiga reside em grande parte no modo como Mendinho nos consegue transmitir, a partir desta estrutura tão simples, o desamparo e a inquietação da moça, sozinha na pequena ilha, e tão receosa com a subida das ondas como com a possibilidade de o seu amigo faltar ao encontro - o que ela, note-se, nunca diz explicitamente. Neste sentido, a maré que sobe identifica-se, simbolicamente, com o seu estado anímico: de paixão, de desejo e de frustração. As grandes ondas onde receia morrer.
De resto, este clima emocional é ainda potenciado pela ambiguidade dos tempos verbais utilizados ao longo das estrofes (do imperfeito para o presente e futuro), e que deixam a cena suspensa num tempo de enunciação indeterminado: estará a moça a recordar-se de um episódio passado (como poderíamos inferir do uso do passado nas duas primeiras estrofes)? Nesse caso, como entender a mudança para o presente (nom hei) e para o futuro (morrerei) nas restantes estrofes?