Dizem, senhor, que nom hei eu poder

Nota geral

Nesta heterodoxa cantiga, João Airas, dirigindo-se à sua senhora, aproveita a sua própria miopia para fazer um jogo com as palavras e a sintaxe que poderemos resumir assim: eu vejo mal, mas, quando vos vejo, vejo (o) bem.
Como acontece com algumas outras composições dos Cancioneiros, esta cantiga situa-se, pois, numa zona de fronteira entre géneros: cantiga de amor pela forma, mas jocosa pelo equívoco que a constrói e pela auto-ironia que dele resulta. Acrescente-se ainda que encontramos uma razom semelhante numa cantiga de João Garcia de Guilhade. As incertezas sobre a cronologia exata dos dois trovadores (sendo que Guilhade parece ser mais velho) não nos permitem, no entanto, estabelecer uma relação direta entre as duas composições.