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Song About a Girl at a Spring
- She awoke at dawn, she woke up fair;
- she goes to the spring to wash her hair.
- Happily in love, in love she's happy.
- She awoke at dawn, she woke up fresh;
- she goes to the spring her hair to wash.
- Happily in love, in love she's happy.
- She goes to the spring to wash her hair;
- the boy who loves her meets her there.
- Happily in love, in love she's happy.
- She goes to the spring her hair to wash;
- there she meets the boy who wants her.
- Happily in love, in love she's happy.
- The boy who loves her meets her there;
- the mountain stag makes the waters stir.
- Happily in love, in love she's happy.
- There she meets the boy who wants her;
- the mountain stag stirs up the waters.
- Happily in love, in love she's happy.
[English version by Richard Zenith]
Nota geral
Ao romper do dia, a moça, alegre e enamorada, vai à fonte lavar os cabelos; por lá passa então o seu amigo, que a ama; e os cervos do monte revolvem a água.Será esta talvez a mais célebre cantiga do ciclo "dos cervos" de Pero Meogo, e uma das mais conhecidas de toda a lírica galego-portuguesa. À sábia mistura de símbolos tradicionais de cariz erótico (o lavar de cabelos, o encontro dos apaixonados numa fonte isolada), junta-se aqui a poderosa imagem final dos cervos revolvendo a água (os cervos, símbolos da sexualidade masculina, a alterar a limpidez feminina da água), numa clara alusão a um desfecho assumidamente sexual.
Mas a excelência da arte de Pero Meogo nota-se também nos pequenos detalhes, como o cuidado pormenor do verbo "passar": o amigo passa por ali, como se o encontro fosse casual - ou como se a perspetiva fosse a da moça, preparando as futuras explicações a dar à mãe. Na verdade, tenha-se ainda em atenção que, se não ouvimos, nesta cantiga, nenhuma voz feminina (antes a narração do episódio por uma voz não identificada), nem por isso ela deixa de pertencer, quer pelo vocabulário, quer, exatamente, por esta perspetiva, ao universo das cantigas de amigo.
Acrescente-se que também este caráter narrativo, sem intervenção direta de uma voz feminina, é retomado por D. Dinis na sua igualmente célebre cantiga Levantou-s'a velida, cujo modelo terá sido seguramente esta composição de Pero Meogo.