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Song of the Green Eyes
- I won't deny to you, my friends,
- how badly love has hit me,
- because I see how mad I act,
- and madly I'll admit it:
- the green eyes that I saw
- have made me what you see.
- Everyone knows to whom these eyes
- belong, and although this who
- resents the fact she's talked about,
- I'm dying of love – what can I do?
- The green eyes that I saw
- have made me what you see.
- If a man has lost his mind,
- then he has to be excused
- for all the mad things he may say,
- and so I madly say to you:
- the green eyes that I saw
- have made me what you see.
[English version by Richard Zenith]
Nota geral
Conhecida cantiga de João Garcia de Guilhade, por nela o trovador cantar uns olhos verdes (os da sua dama), um tema que conhecerá, ao longo dos séculos seguintes, inúmeras variações.Note-se, no entanto, que os olhos verdes são aqui muito nitidamente associados ao segredo sobre a identidade da amada: é por estar louco (de amor) que ele se atreve a revelar um traço físico que a caracteriza, o qual, pela sua raridade, pode levar à sua identificação - como refere na 2ª estrofe, onde alude ainda às mais do que certas queixas da possuidora de tais olhos. Como única justificação, ele acrescenta, na 3ª estrofe, que os loucos (como ele) não devem ser responsabilizados pelos seus atos.
Há um outro dado, no entanto, muito curioso, e de assinalável originalidade: numa cantiga de amigo do trovador, ouvimos a voz feminina a confirmar ter, efetivamente, olhos verdes. É este um dos elementos do notável "teatro de vozes" que João Garcia de Guilhade desenvolve em muitas das suas cantigas (em sucessivos diálogos entre a voz masculina das cantigas de amor e a voz feminina das cantigas de amigo, vozes que funcionam quase como heterónimos do seu autor), e que faz de Guilhade um dos mais notáveis poetas não só da Lírica Galego-Portuguesa, mas da poesia em Português.